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Talita Guimarães - de A a Z
Talita Guimarães - de A a Z

 Cisma em supor-se

Assumimos a posição. Nosso acervo é acetinado, com um leve gosto ácido de assédio. Não adianta! Ficamos presos em meio as gargalhadas e ridicularizações dos deuses. Desfrutam de nossa mediocridade amorosa e nos fazem patinar em gelo rachado.

- Talita Guimarães

 


Silêncio Anárquico

O sonho da solista se realizou em partitura dourada. A velha harpa já causava feridas nas mãos do instrumentista. O cravo estava desalinhado e enferrujado, o som que dali minguava era como trilhos de trem em noite fria. Os violoncelos de madeira rachada doavam bocejos de animais enjaulados. E as batidas no baixo acústico, ritmavam e ladravam a cada compasso. A teria musical do avesso.

 Sobre a relva nada mais foi dito, e quanto ao orvalho... Secou sozinho. O tempo subiu como conhaque, o resquício da mancha d’agua sobre o piano, aguçou o sexto sentido do maestro. A orquestra desafinava a intensidade de cada dose. Sua imaginação ia além. A criação da pior e da melhor musica a ser ouvida, nunca entoou, nunca sentiu, nem nunca se viu. Os tesouros de Fá natural se perdiam nas tonalidades do acorde. A essência da harmonia sem melodia.Os contraltos e sopranos tinham vozes de meia noite. O tenor era o mais robusto e impaciente, e o barítono tinha timbre de catarse. O repudio do silencio era algo mortal, cada vez mais surdo e insano.

 Do lado de fora do teatro arena, nada mais se ouvia além de fragores. Os ruídos semelhantes a coisas que se quebram, pareciam devaneios nas mentes vazias que por ali passavam. As iluminuras foram se apagando em meio ao descaso, porém as notas sibilantes se revigoravam a cada olhar estapafúrdio. Era o musical mais extravagante e excêntrico que se podia imaginar. Tocavam para si mesmos, alimentavam suas almas com suas próprias entranhas e devoravam a vida como nevoeiro(...)

 -Talita Guimarães_ápice;

 


 

Cavilações de Hannuk

 

Todos estavam profundamente adormecidos. Suas mentes repousavam e seus corpos já não se tocavam desde a última primavera. (...) Era noite. E numa odisséia dessas, Hannuk achou que era um anjo azul e saiu cônscia por entre as flores de camomila e junquilhos procurando uma solidão que aplacasse suas ânsias e rebeldia. Tudo era mágico, até mesmo a escuridão ao redor, que lhe proporcionava sombras dançantes, ritmadas pelo vento gélido. A música era contínua e estridente como uma protofonia, vindas de seus sonhos mais utópicos e desorientados. Envolvida por densa e odorífera vegetação tentou alcançar o céu e roubar estrelas, mas suas asas se mostraram frágeis e inóspitas, desenterrando da sepultura uma dolorosa indolência de voar.

 

-Talita Guimarães_Um conto A parte;


 

Panacéia  pela liberdade

 

Loucos somos nós, que conseguimos viver neste hospício a céu aberto... Os que estão trancafiados em manicômios recebendo ''tratamento'' com doses de egocentrismo e manipulação, matando assim toda sua real pureza, são pessoas cujo as almas atrofiaram-se em melancolia ao ver tamanho caos e terror em suas mentes assassinadas pela insanidade mundana. Os loucos são os mais puros seres existentes. A incostestável diferença entre a loucura e a genialidade é só uma... O sucesso.

-Talita Guimarães

 

 

 

 

 


 

A ideia de um idílio

 

Um silêncio nostálgico que soa na minha mente reproduzindo ecos que nunca param, num tipo de ciclo vicioso, criando um vazio que invade a alma numa dose seca de repressão assassina.

 

-Talita Guimarães

 


 


 

A cadeira de repouso

 

E naquele dia em que me faltou sangue e coragem para a inspiração, estava exatamente do jeito que me encontro neste segundo. Sentada na velha cadeira olhando a rua deserta entre as frestas do antigo cortinado branco, enquanto os aviões passam baixinho atiçando a brisa a balançar as persianas criando flashes de luzes muito intensos e sombras cálidas. Não dá para relaxar, cada minuto nesta casa é uma cruel tortura para mim. As lembranças vem como um lapso e e atormento aprisionada aos meus próprios pensamentos. Fico imóvel, paralisada e com os olhos lacrimejando angustia e saudade, meio perdidos por entre o céu estrelado e a terra. Esta cadeira nunca foi tão desconfortável como por estes dias. Mas de forma inegável eu amo essa dor, que vem forte e atinge o âmago da minha essência.

 

-Talita Guimarães

 



Telefonema derradeiro. 

 –Ah, eu quero saber sem metáforas, posso te fazer essa pergunta?

 ‘’Sim, claro. ’’

 –O que eu sou pra você? 

‘’O mais próximo de mim que eu consigo chegar. Não sei por que, mas você não parece ser mais uma mulher, você não parece ser mais um beijo, mais boca, mais um jogo. Há muito tempo eu não me aproximo de mim. Há muito tempo essa pessoa que esta falando no telefone com você hoje, não fala com uma mulher. Eu gosto de ter esse contato comigo mesmo. E quando percebi que isso era possível, eu decidi experimentar de novo pela última vez a sensação de ter o Santiago de volta. ’’

 –Deixa eu te fazer mais uma pergunta? O que nós temos um com o outro?

 ‘’Hoje esta nublado. ( Suspiro). Não tenho noção... Mas posso explanar a idéia?''

 Claro!-resmungou baixinho que iria se sentar...

 ''Eu não sei por que! Quando nós nos encontramos, ficamos juntos por pouco tempo. Logo, sexualmente, não passa de algo mental. Uma amizade não é, nós dois sabemos bem disso. Apenas um jogo? Não, porque eu não estou jogando e já declarei isto a você. Você manda. Se você quiser mudar alguma coisa, vai mudar. Mas se você for embora vai voltar a ser como antes. Assim, se for um jogo não tem uma finalidade.''

 Me deixa fazer uma outra pergunta?

 ''Diga...''

 Você tem alguma pretensão futura?

 Silêncio.

 Tenho que te lembrar de uma coisa: você fez uma promessa para o Santiago e você tem que cumprir essa promessa.

 ''Que promessa?''

 O filho. Essa, com certeza é uma pretensão futura. Outra pergunta: - Você quer ter pretensões futuras?’’

 ''Sim. Eu quero querer. E eu te falei isso no começo da nossa ‘’relação ‘’. Eu, quero muito sentir de novo aquilo que eu senti uma vez e que se perdeu como um eco. Faz o barulho e depois gradativamente vai morrendo. Eu tenho medo de não conseguir ouvir nunca mais. Ah, e uma ressalva: eu me conheço, e eu sei do risco que eu corro. Eu não tenho receio de me decepcionar. Uma desilusão jamais me decepcionaria! Mas me responda... Isso é algum tipo de entrevista?''

 (risos em ambas as linhas).

 Entrevista? Mas é claro que não. As perguntas sugiram porque conheci uma pessoa que você se relacionou. Uma mulher morena, que anda cem por cento do tempo embriagada. Poderia me contar por que se entregou a ela? 

 ''Eu que saboreei tantas bocas, me assustei quando no retrovisor o batom dela apareceu. Ela queria me levar com ela... Enquanto isso eu brincava de viver pela última vez.''

-Talita Guimarães_; dedicado a pessoa que me ensinou a diferença entre hífen e travessão.

 



O ébrio equilibrista

 Não era nada demais. Uma noite qualquer, num bar qualquer, numa rua qualquer, com um chapéu qualquer, deparei-me expondo a face dura ao luar. Reprimido por minhas ânsias infantis, soltava um rumor surdo e áspero. As palavras sacudiam dentro da minha boca, e eu só resmungava baixinho nas pausas do soluço:

 

‘‘-Aqui jaz um indivíduo fracalhão. ’’

 

O céu borbulhava e meu coração sambava só... Agarrado com minha garrafa de conhaque quase vazia, tratei de procurar um bar para ascender meu pavio poético. Eu tentava decompor em versos, meus elementos métricos. Obrigava-me a fechar os olhos e me sentir recrudescente. Minha voz rouca já não me bastava. O meu verdadeiro vício era querer me entorpecer de tudo que me parecia impossível.  Queria a batida mais alta do tambor e do pandeiro como se tudo fosse um eterno carnaval. Porém coisas novas acontecem todos s dias, as pessoas sempre vêm, mas nunca ficam. E embora eu quisesse tudo o que sentia, despedidas não me estremeciam.

 Pedi uma dose mais forte. Resolvi brindar às mulheres, que sempre ferraram com a minha vida. Mandaria todas elas se danarem, mas não obstante, desejei me sentir abestado mais uma vez: -‘’No dia que ela vier, que venha de vez. ’’ Tomei numa só golada!

 -Talita Guimarães

 


Só uma coçadinha...

Matei um mosquito! Ai, matei um mosquito em meu peito! Suas asas minúsculas pularam de seu corpo esparramando sangue de sabe-se lá o que. Mas que coisa, logo eu anarquista, que odeio animais enjaulados e qualquer forma de vida mal tratada, matei um mosquito. É a ordem natural das coisas, ele só queria se alimentar com um pouquinho do meu sangue, quase nada... Só uma picadinha e eu o espalmei forte e sem dó! Se  eu não o matasse e ele me picasse, aquele calombo vermelho e feio apareceria e me provocaria ardências! Mas será que a vida do mosquito vale menos que uma coçadinha?

-Talita Guimarães



Exarcebo de uma menestrel - De diferentes formas, são forças iguais.

 Não importa o que eu estou sentindo, eu não vou esconder em uma caixinha e deixar a mercê do tempo, e saiba que você pode me dizer cada segredo porque eu não sou boa em adivinhar, e eu só preciso saber. Vamos abandonar tudo isso que aprendemos a nos apegar a vida toda? Vamos simplesmente ser como uma folha ao vento que voa para lá e para cá, e andar por aí vivendo aprendendo com a mãe Terra. Querido amor não era você quem estava disposto a cometer as maiores loucuras em troca de vida e sensações tão intensas como nunca havia sentido? Te digo, podemos voar. Sim, podemos voar. Não permita que o herói em sua alma padeça sem ter a vida que ele tanto merecia mas que nunca foi capaz de viver. É possível, esse mundo existe, e é seu. Deixe sua mente falar, você não pode ser feito de pedra. Diga a ela como sussurrei ao pé do seu ouvido e vi seus lábios se movendo. Venha comigo para o outro lado, vou estar sempre esperando. Vamos perder o controle e nos perder no paraíso. E quando o sol se for, verás que somos mais fortes quando estamos juntos, e que em meio a todo o ódio haverá sempre, sempre, e sempre uma força maior que nos unirá até a volta para a vida ao longo do caminho. Porque de diferentes formas são forças iguais. Sentir, respirar, enxergar e gritar. Grite meu amor, grite para o mundo a liberdade que você tem aí dentro e que esta louca pra sair.

 -Talita Guimarães



ZUMIRA

 (...) Ouvi muitas histórias lendárias sobre a tal Zumira, sempre farta de coragem, heroísmos (dignos de epopéias imortalizantes) , solidariedade e amores nada convencionais. Tais lendas rezadas no interior das Minas Gerais, bem no coração do Brasil. Essa cabocla mineira a qual dizem que tanto me pareço, me instiga a investigar toda sua história. Creio que o desejo de Zumira de ser lembrada por algo marcante que fez foi tão grande, que hoje tal desejo corre nas minhas veias. A menina da quarta geração de Zumira que sonha com seu marco na história. A caboclinha mineira pode até não ter marcado sua vida em livros  de histórias e contos, mas deixou selado suas controvérsias propositais na cabeça daqueles que a conheceram. Ela embaraçava mentes ao redor por puro e intenso prazer. Prazer de fazer as pessoas  pensarem mais, sentirem mais, não importa o que. Ela ojerizava tudo o que lhe fazia racional. Adorava patuscar dançando uma pavana estranha no meio da floresta em dias chuvosos, e queria que todos fossem com ela, e de modo sutil e pertinente os convenciam. E os réprobos revertiam sua perversidade em uma arte incoercível! Ela gostava de grofar godê e expunha içando bem alto parafraseando solilóquios épicos (...)

 -Talita Guimarães

 

 


A dádiva de uma ilusão

Talvez tu não passe de uma instigante ilusão, ou até mesmo uma fração de tempo para uma imaginação fértil e agradável. Um lapso. O teu suposto ser me acalma a alma. Mas o que seria a vida sem a ilusão? Sem o imaginar de um mundo melhor e de um caso de amor perfeito e sem pontos finais? Nada. Não seria nada. Simplesmente não haveria sentido em respirar. E eu sinto você quando eu respiro. Quem me dera consolar a todos os que choram e aos aflitos de coração. Prefiro sonhar e me auto-iludir a viver sempre a mesma realidade medíocre que eu sou imposta a sobreviver. Não quero ser uma sobrevivente de mim mesma, quero viver de mim, de historias e ilusões, de sonhos impossíveis e de amores inventados, de honras e promessas. É isso. É só isso que quero. Quero um conto de fadas onde não haja limite entre sonho e realidade. Quero o ápice da história do inicio ao fim. Quero o estopim da guerra a cada olhar de ódio e rancor. Quero a batida mais alta do tambor e do pandeiro como se isso tudo fosse um eterno carnaval. Quero ser o ponto de conflito entre céu e mar. Quero proclamar a glória da vitória.  Quero ler um livro sem ponto final. (...) 

-Talita Guimarães

 


Um último arrepio 

Eu não tenho medo, eu empurrei com a dor, e estou em chamas. Lembro-me de como respirar de novo... Lembro de você me dizendo baixinho enquanto me sufocava com as mãos suadas e tremulas receosas de ser aquela a ultima vez: “Respire enquanto puder”. 

-Talita Guimarães